O DESAFIO DE SE DEIXAR CUIDAR

13-09-2022

Apesar da crescente difusão dos serviços de ajuda psicológica, e da naturalização dos muitos benefícios que se lhes reconhece na sociedade atual, persevera ainda um número significativamente alarmante de pessoas que por vergonha, culpa, medo e/ou ansiedade, se vê inibido de falar em público acerca da preocupação com a sua saúde mental, bem como de procurar, iniciar e dar continuidade a processos de ajuda psicológica. Os inícios não são fáceis. Venha desarmado/a. Com ou sem grandes preparações. Permita-se a oportunidade de SER e de CRESCER na sua máxima autenticidade. Se tiver medo, se sentir ansiedade: traga-os também. Aqui nenhum sentimento é inadequado.

O QUE É A PSICOTERAPIA E O QUE PODE ELA FAZER POR NÓS?

O que é a psicoterapia? | A psicoterapia é uma atividade profissional baseada no conhecimento científico do funcionamento psicológico humano, que tem por objetivo o tratamento de diferentes problemáticas geradoras de sofrimento psicológico e/ou condicionantes do funcionamento adequado da pessoa que requisita os seus serviços (sejam essas problemáticas de foro mental: e.g., depressão, ansiedade, pânico, fobias; ou dificuldades interpessoais: e.g., gestão de conflitos pessoais, conjugais e familiares).

A psicoterapia estabelece-se através de um processo relacional-dialético em que o psicólogo investe o seu saber adquirido por formação e experiência pessoal para ajudar o cliente a encontrar recursos psíquicos que lhe permitam gerir com autonomia e eficiência os desafios e problemas com que se confronte na vida, focando o aumento do seu equilíbrio, bem-estar e melhoria de qualidade de vida.

Como se processa o acompanhamento terapêutico?

Na CresSendo, a aventura do acompanhamento psicológico inicia-se com um processo compreensivo de avaliação psicológica, com o propósito de obter uma primeira apreciação acerca da história das dificuldades sentidas e do estado mental do cliente, bem como a progressiva recolha de informações anamnésicas (i.e., da história desenvolvimental, história familiar, e história médica), o motivo da solicitação da consulta, as expectativas e os objetivos da intervenção. Em seguida, prevê-se que a prática clínica progrida para a elaboração de uma hipótese de trabalho, de base concetual, empiricamente validada, estipulando-se a sua pertinência sempre que aquela se mostrar capaz de explicar as problemáticas em causa, testar predições e ajudar o cliente a alcançar os objetivos delineados.

Daqui, avançar-se-á para a planificação e implementação de planos terapêuticos, abertos à monitorização/regulação da sua eficácia. Atendendo à diversidade de perfis da população-alvo, propor-se-á uma conjugação de diferentes quadros teóricos (e.g., TCC, Narrativo, Sistémico, Psicodinâmico, Construtivista, Existencial, Humanista), sempre que passíveis de complementaridade epistemológica, no enquadramento concetual da hipótese de trabalho, adaptadas à especificidade das preocupações, expetativas, necessidades e objetivos de cada cliente.

Em cada estádio do processo de acompanhamento, zelando pelo cumprimento dos princípios éticos e deontológicos reguladores da relação profissional com os clientes, compete ao psicólogo manter uma postura empática e envolvida, abstraída de juízos de valor, com base no respeito e na máxima compreensão, uma postura de recetividade, acolhimento e disponibilidade constantes, incentivando à expressão máxima de sentimentos, atitudes e problemas por parte do cliente, em total segurança, num esforço de caminhada conjunta, sempre a compasso do ritmo de evolução dos clientes.

A mudança terapêutica é assim percebida como decorrendo não só da aplicação direta de técnicas específicas, mas também da criação de uma forma particular de relação humana, constituída como um contínuo processo colaborativo, em que o cliente é sempre percebido como agente proativo no seu processo de mudança.

Psicoterapia: que eficácia?

A psicoterapia facilita a remissão de sintomas perturbadores e melhora o funcionamento diário das pessoas, fornecendo estratégias e recursos para lidar com problemas futuros. Está provado que um amplo leque de terapias, quando executadas por terapeutas profissionais, competentes e qualificados resultam em ganhos consideráveis para o cliente, incluindo um retorno ao funcionamento habitual. A investigação sobre psicoterapia demonstra que 40% a 60% dos pacientes melhoram a sua qualidade de vida, tendo a terapia benefícios práticos na sua rotina diária. Estudos provam que 30% dos pacientes atingem um benefício duradouro após apenas três sessões.

Psicoterapia: que benefícios, afinal?

A psicoterapia é uma atividade profissional baseada no conhecimento científico do funcionamento psicológico humano, que tem por objetivo o tratamento de diferentes problemáticas geradoras de sofrimento psicológico e/ou condicionantes do funcionamento adequado da pessoa que requisita os seus serviços (sejam essas problemáticas de foro mental: e.g., depressão, ansiedade, pânico, fobias; ou dificuldades interpessoais: e.g., gestão de conflitos pessoais, conjugais e familiares). No número dos seus benefícios, listam-se:

v A promoção do restabelecimento do funcionamento psíquico ótimo do cliente (por meio do tratamento de perturbações psicopatológicas, como por exemplo, ansiedade e depressão, e conflitos interpessoais);

v A promoção do autoconhecimento numa lógica de otimização evolutiva (i.e., dotar a pessoa da capacidade de reconhecer e reavaliar os seus valores, as suas necessidades e interesses, bem como as suas habilidades e fraquezas, o que a deixa satisfeita/feliz, o que a está a prejudicar, o que pode fazer para se libertar de todos os obstáculos que lhe condicionam o crescimento pessoal positivo, o que pode melhorar para transformarem as suas atitudes numa fonte de poder pessoal, por forma a tomar decisões sincrónicas com a sua individualidade e evitar o subaproveitamento das potencialidades positivas da vida);

v A promoção da aceitação de si mesmo (i.e., desenvolvimento de uma atitude positiva para com o próprio, aceitando aspetos positivos e negativos do seu funcionamento);

v A promoção de competências de valorização pessoal [i.e., desenvolvimento de um autoconceito positivo (seja a nível pessoal e emocional, físico, social e/ou académico); desenvolvimento da capacidade de auto-estima, e de autoconfiança];

v A promoção das relações positivas com os outros (i.e., desenvolvimento de empatia e identificação com os outros, de cordialidade e ética, e capacidade para estabelecer relações de proximidade, confiança e orientação alteritária);

v A promoção de competências emocionais (i.e., capacidade de identificar, expressar e controlar/regular estados emocionais internos);

v A promoção de competências inter e intrapessoais (i.e., comunicação positiva, treino de assertividade, capacidade de resolução de problemas adequada);

v A promoção do domínio do meio e de resiliência face às adversidades (i.e., a capacidade de gerir eficazmente as exigências da própria vida, criando e mobilizando recursos oportunos à sua condição física, mental e espiritual);

v A promoção do crescimento pessoal (i.e., capacidade individual da atualização e realização pessoais, da abertura à experiência e do movimento contínuo e dinâmico de desenvolvimento dos próprios potenciais);

v A promoção dos objetivos de vida (i.e., trabalhar a intencionalidade e o sentido de orientação, capacitando-se da compreensão de um propósito significativo para a vida);

v A promoção da autonomia (i.e., tornar-se independente, ser-se autodeterminado/a, capacitar-se de um bom autocontrolo, e a resistência a pressões externas - nomeadamente socioculturais - em prol de valores e objetivos pessoais).

A RESISTÊNCIA À PROCURA DE AJUDA PSICOLÓGICA:

Há sensivelmente três meses atrás, o Ministério da Saúde fez notar que o número de portugueses (entre os inscritos nos centros de saúde) com depressões passou dos 6,85% para os 9,8%, entre 2011 e 2017, que a percentagem de perturbações de ansiedade duplicou dos 3,51% para os 6,51% (sendo esta a quinta principal causa de morbilidade nas mulheres entre os 15 e os 49 anos), e que o consumo de benzodiazepinas e antidepressivos cresceu. Conforme o Retrato da Saúde do Mistério da Saúde "os resultados do estudo sobre a prevalência de doenças mentais na população adulta portuguesa sugerem que somos o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais".

A despeito da crescente difusão dos serviços de ajuda psicológica, e da naturalização dos muitos benefícios que se lhes reconhece na sociedade atual, persevera ainda um número significativamente alarmante de pessoas que por vergonha, culpa, medo e/ou ansiedade, se vê inibido de falar em público acerca da preocupação com a sua saúde mental, bem como de procurar, iniciar e dar continuidade a processos de ajuda psicológica, na sequência de preconceitos, ideias erróneas e falta de informação rigorosa sobre o papel e prática do psicólogo clínico. Num dos posts do seu conhecido blog «Lolly Taste», Vânia Duarte partilha com manifesta preocupação a seguinte vinheta: "Há umas semanas recebi um email de desabafo de uma seguidora sobre a obsessão que tinha com a comida e com o peso. Estivemos a trocar emails durante um longo período até que eu lhe sugeri, porque não tentar a psicoterapia e ela respondeu-me, que tinha vergonha. Tinha vergonha de contar à família e aos amigos. Tinha vergonha de ser olhada de lado, ao estar a recorrer a um psicólogo por causa de se descontrolar com a comida. Tinha vergonha que a julgassem porque assuntos de peso e comida são sempre tidos como 'manias femininas'".

Longe de se cingir a um caso isolado, esta vinheta dá conta da experiência subjectiva de muitas pessoas que se vêem na necessidade de ajuda psicológica, ou de dela poderem beneficiar, mas privadas de ativá-la por diferentes fatores. Ao contrastar a galopante incidência de perturbações mentais em contexto português com a percebida constância, quers de impeditivos à procura de ajuda psicológica, quer de resistência ao início e prossecução de processos psicoterapêuticos, faz-se necessário identificar e desmitificar algumas ideias erróneas responsáveis pela distorção do papel e prática do psicólogo clínico, bem como pelo obscurecimento dos benefícios da relação de ajuda que com ele se estabeleça. Seguem-se algumas reflexões a este propósito:

1 - "Consultar um psicólogo? Nem penses! Tenho vergonha! O que é que os outros vão dizer?"

"Qual vergonha? A vergonha de quem se expõe? A vergonha de quem escuta, vê? Qual o "olhar que envergonha"? A vergonha do olhar do parceiro/família e/ou do terapeuta?" (Maria Amalia Faller Vitale). A vergonha decorre da internalização dos processos de transmissão do mundo social; por isso, pensar este sentimento implica reequacionar-nos no contexto da relação que mantemos com o Outro; por outras palavras, pensar quem e como somos diante dos demais, como nos apresentamos diante deles, que ideia temos de si, que ideia fazemos do que pensam a nosso respeito e de como interagem connosco e, em última análise, até que ponto estamos ou não capazes de afirmar a nossa individualidade diante do seu julgamento crítico. Por isso, a vergonha que a pessoa tem de si mesma, "normalmente associad[a] ao sentir-se internamente defeituosa, má, indesejada, inferior ou inválida", só é passível de ser compreendido na relação com os demais.

Não raro, esta vergonha desenvolve-se em fases iniciais de vida, estando associada a críticas exageradas por parte de pessoas significativas (pais, amigos, colegas, professores), a ser-se ignorado em momentos importantes, e a experiências de rejeição real e/ou percebida. Daqui, resultam muitas vezes, o medo de desagradar aos outros, o desejo de agradar aos demais, e de se fazer corresponder às suas expectativas, mesma a expensas das nossas reais necessidades e desejos; dinâmicas de idealização ou exigências de perfeição (i.e., na criação de um "eu ideal" aos olhos dos outros); sintoma de defesa na repressão dos instintos; e/ou ainda uma tendência para admirar exageradamente a sua própria imagem (i.e., narcisismo). Por isso, a resistência em procurar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica pode, muitas vezes, ser entendida como parte de um problema maior: o receio de se expôr na sua vulnerabilidade, e perceber a vulnerabilidade como parte a ser eliminada, em vez daquilo que verdadeiramente significa: uma manifestação das necessidades de um 'eu real' com dificuldades em afirmar-se. Ironicamente, "a pessoa que se sente envergonhada de si mesma pode acabar por afastar outras pessoas e possíveis relacionamentos, sejam amorosos ou de amizade, por considerar-se inadequada e concluir, precipitadamente, que as outras pessoas também não se interessarão por ela" (Marisa de Abreu Alves).

Na perspetiva que defendo, o sofrimento problemático - o sofrimento patológico - resulta da violência que exercemos sobre nós próprios quando permitimos que as verdadeiras necessidades do 'eu real' sejam subjugadas às imposição do 'eu ideal'. E perdemos a oportunidade de obter ajuda quando deixamos que o "O que é que os outros vão dizer?" se imponha sobre aquilo que nós precisamos. Se por um lado, este encobrimento da verdade nasce da incapacidade de lidar com situações dolorosas, por outro lado percebemos que a resistência a essa mesma verdade, ou a sua não-aceitação também mantém e justifica o sofrimento. Porém, muito ao gosto pós-moderno dos ideais do homem/mulher-máquina, o sofrimento da experiência problemática é subaproveitado como possibilidade de aperfeiçoamento pessoal. É assim, não raro, que se ouvem comentários depreciativos quanto à procura de ajuda, e uma subtil voz de incentivo à obrigação de lidarmos sozinhos com os nossos problemas.


2 - "Consultar um psicólogo? Nem penses! Não vou falar sobre estas coisas com um estranho. Tenho os meus amigos!"

"Há um provérbio eslavo da Galícia que diz: o que não contas à tua mulher, o que não contas ao teu amigo, conta-lo a um estranho, na estalagem" [Eça de Queirós in 'Singularidades de Uma Rapariga Loira']. Decorrente da pressão associada a todos os motivos acima elencados, expor a nossa história de vida e partilhar a nossa vulnerabilidade pessoal aos olhos de um 'outro desconhecido', o psicólogo, poderá resultar num desafio extremamente difícil. Por este mesmo motivo, é frequente, e expectável, que as primeiras sessões comportem alguma ansiedade potencialmente desencorajante. Ao psicólogo competente, ciente desta realidade, cumpre a responsabilidade de atender a esta possível reacção, normalizando o processo, e securizando a pessoa. Na naturalização do processo de atendimento psicológico importa pois desmistificar o papel deste 'outro estranho', e as características que fazem da relação com o psicólogo, uma relação especial e privilegiada.

A relação terapêutica constrói-se como todas as demais relações humanas, mas envolve uma forma particular de colaboração ativa entre o psicólogo e o cliente, orientada pelo objectivo de promover a mudança deste último, e assente num contrato em que as responsabilidades e os papéis de ambos se encontram bem definidos. Embora muitas pessoas tenham em amigos, familiares ou parceiros românticos figuras bem-intencionadas e dispostas a ajudar, nem sempre esta ajuda é veiculada da melhor maneira, mantendo as necessidades de apoio e securização por suprir; além disso, certos assuntos poderão ser difíceis de partilhar, na medida em que envolvam essas mesmas pessoas. É o treinado domínio do psicólogo sobre princípios e técnicas psicológicas, a sua imparcialidade e abstenção de julgamento, e ainda a obediência a um código ético e deontológico que o obriga a garantir a privacidade e confidencialidade dos seus clientes (exeto em casos como o do risco de suicídio), que diferenciam esta relação das demais, com amigos ou familiares.

A construção desta relação tão única resulta da conjugação de vários fatores, nomeadamente, a empatia (o que engloba a capacidade de receptividade do psicólogo, de compreensão dos sentimentos, pensamentos e atitudes do cliente, dando-lhe a entender que o compreende e aceita, sem quaisquer juízos de valor e julgamentos), a inteligência emocional (que engloba a capacidade do psicólogo identificar os seus próprios sentimentos e o do cliente, e de gerir esses sentimentos de si para consigo mesmo, e no relacionamento com o cliente), a comunicação (que implica a capacidade de entendimento do cliente na sua linguagem verbal e não-verbal), e a confiança interpessoal.

A confiança implica que os sujeitos estabeleçam alianças entre si, por forma a conseguirem uma melhor adaptação aos sistemas e instituições sociais, sagrando-se assim uma variável imprescindível para o relacionamento interpessoal e da sociabilidade. Numa perspetiva psicológica, este conceito pode reportar-se a um traço pessoal característico de cada indivíduo - tendo em conta os seus valores pessoais e a sua experiência de vida - capaz de guiar os seus comportamentos e crenças na construção e manutenção de todo o tipo de relações.

Tomando a relação terapêutica como uma construção, também a confiança no espaço terapêutico e no profissional em causa se constrói num esforço gradual, tentativo e sempre colaborativo, ao longo do tempo, tendo por base a noção de fidelidade (i.e., o cumprimento da palavra ou promessa e consistência dos comportamentos ao longo do tempo, quer por parte do psicólogo, quer por parte do cliente), a de confiança emocional (i.e., o pressuposto de que o psicólogo se abstém de críticas e de atos que possam causar constrangimento e danos emocionais e que estão disponíveis para as confidências do cliente e para a manutenção da sua confidencialidade), e a de honestidade (i.e., a autenticidade das palavras e ações, pautadas pela genuinidade e por uma intenção benigna, ao invés de estratégias maliciosas).

De modo a evitar desistências e a potenciar o sucesso da intervenção, a relação terapêutica deverá ser não só estabelecida o mais precocemente possível, como também trabalhada/monitorizada de encontro para encontro; quanto maior for o compromisso de ambas as partes relativamente a estas noções, maior será a probabilidade de um processo positivamente eficaz.


3 - "Consultar um psicólogo? Nem penses! Isso é para gente fraca. Os psicólogos são para os malucos!"

Um dos maiores mitos acerca da psicologia clínica, e um dos maiores entraves ao processo de construção da confiança, encontra-se plasmado na ideia de que "os psicólogos são para os malucos e para os fracos". Várias são as crenças erróneas que concorrem para a sustentação deste mito:

1: Comparar a relação terapêutica a uma operação de "ajuste" e de "reparação" mecânica da pessoa com dificuldades, e a caracterização desumanizada do psicólogo como um 'mecânico treinado', sem problemas, capaz de "tirar de letra" as dificuldades dos outros:

A psicoterapia estabelece-se através de um processo relacional-dialético em que o psicólogo investe o seu saber adquirido por formação e experiência pessoal para ajudar o cliente a encontrar recursos psíquicos que lhe permitam gerir com autonomia e eficiência os desafios e problemas com que se confronte na vida, focando o aumento do seu equilíbrio, bem-estar e melhoria de qualidade de vida. Em todo este processo, não somente é inevitável o envolvimento e a reação subjetiva profunda do terapeuta na relação com o próprio cliente, mas também um recurso útil e indispensável no processo da terapia: é preciso que a relação seja um itinerário de humanização, de verdadeiro envolvimento da pessoa, o que deverá exceder a mera capacidade empática do profissional.

O terapeuta está dentro da relação com toda a sua própria história, com a sua modalidade específica de estabelecer relações, com a sua personalidade e criatividade. Além disso, a sua capacidade de estar na dor e no sofrimento alheio, de a compreender e possibilitar que quem a experimenta consiga atribuir-lhe novo significado, vem da possibilidade de olhar para as suas próprias feridas, para as suas relações significativas e os seus limites; existe assim, inevitavelmente, um contacto do terapeuta consigo mesmo.

Considerado 'o pai da abordagem interpessoal em psicoterapia, Harry Stack Sullivan chega mesmo a definir a relação terapêutica através da seguinte caricatura: "Duas pessoas, ambas com problemas na condução da sua vida, que concordam entre si estudar esses problemas, com a esperança de que o terapeuta os tenha em menor número do que o cliente" (Kasin, 1986, citado por Safran & Segal, 1990, p.5). É a competência relacional do terapeuta, a sua competência em construir relações significativas e a sua treinada capacidade de conjugar a observação do outro e de si mesmo, que proporcionam a possibilidade de construir o "nós" da relação terapêutica.

O bom psicólogo é aquele que tem um controlo do próprio poder de reação emocional frente aos demais, procurar o "eu próprio" em si mesmo para poder respeitar e valorizar o outro. O psicólogo é alguém que se coloca no centro do interesse do cliente e atenta na sua história de vida, indo com ele à procura da interpretação do significado da sua condição atual, de forma a torná-lo o grande protagonista do processo de mudança.

Na mesma sequência de uma visão desumanizada do psicólogo, percebe-se um outro mito: o de que que o psicólogo não experienciou a mesma situação não estará apto a compreender as dificuldades do outro. Não raro, a preocupação das pessoas quanto a esta suposição vem plasmada em verbalizações como: "Ele nunca passou por uma depressão, só sabe quem realmente vive com esse tormento", "Não tem filhos, por isso não sabe como é", "É demasiado novo, não tem experiência nenhuma; até eu já vivi mais do que ele", ou "Ele nem é casado, o que pode saber acerca de relações?". No entanto, é a formação teórica do psicólogo, estendida ao longo de anos de estudo, acoplada à experiência prática de estágios, atendimentos e supervisões, que o habilita a compreender a multiplicidade dos seus clientes numa visão de grande angular, contextualizando as suas realidades nas diferentes fases da vida, indicando as potenciais fontes de determinadas situações problemáticas, e propor as soluções mais ajustadas às mesmas.

2: A associação exclusiva da psicologia, no seu contexto clínico, à cura de patologias e a caracterização do psicólogo como um profissional da doença mental:

"Não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade doente" (Jiddu Krishnamurti). É já indiscutível para a psicologia crítica a percebida tendência para se categorizar comportamentos humanos em tipologias patológicas, mesmo aqueles que outrora eram considerados "normais", de onde um estado-de-arte em que nunca se assistiu a tanta doença mental com tão pouca doença.

Embora várias abordagens tenham tentado distinguir anormalidade psicológica de uma simples variação da normalidade, a satisfação do esforço permanece inconsolável, pois se a insuficiência do critério estatístico necessita que sejam considerados aspetos como a qualidade dos comportamentos observados, definir a anormalidade como ausência de saúde mental encerra-nos num raciocínio tautológico.

Quando consideramos que a biografia subjetiva individual não é passível de se destrinçar das condições sociais, históricas e culturais que a contextualizam, é legítimo afirmar que as novas formas de subjetividade individual perturbada podem ser compreendidas em função dos emergentes valores de auto-expressão societal. Estes parecem conduzir a um novo tipo de funcionamento coletivo cada vez mais centrado no umbiguismo pessoal, sobretudo com o monopólio do capitalismo em crescimento. Cada vez mais, o sentido de valorização pessoal do ser humano radica não no valor das suas capacidades (e no uso que lhes pode dar), mas num parâmetro imposto desde o exterior (fora, portanto, do seu controlo) que lhe regula o valor em função de um (a)preço de mercado e da capacidade de atrair a atenção e investimento dos demais. Esta ideia leva, consequentemente, à sensação de impotência e de insegurança que propendem a debilitar o eu individual. Nas malhas desta intrincada dinâmica, tudo o que nega a afirmação da nossa originalidade como pessoa condiciona uma vida ativa e espontânea, afetando a nossa realização pessoal. Se vivermos subjugados às expectativas e opiniões dos outros, se vivermos à mercê da necessidade de reconhecimento e validação externa, se vivermos presos ao receio de que nos excluam ou abandonem e nos não aceitem na nossa imperfeição, se deixarmos que os outros imponham uma versão ideal do 'eu' sobre o original, o nosso crescimento, a nossa liberdade e a nossa felicidade ficarão debilitadas.

Em suma, uma pessoa adoece ao orientar os seus esforços não para a realização das suas capacidades reais e potenciais, mas para o mito coletivo de uma pessoa-máquina, perfeita, para um modo de existir em que enfatiza mais a importância de ser igual a todos, para não destoar. Face ao vazio sentido, fruto da alienação da pessoa face ao seu próprio 'eu', nasce a necessidade sôfrega de procurar uma espécie de lucro externo que possa compensar esse vazio interior e na perseguição de objetivos crescentemente irrealizáveis de riqueza, segurança e felicidade. Os sintomas de mal-estar tornam-se como que uma identidade substituta do 'eu', mas uma identidade patológica, não saudável. Ou seja, a doença toma conta de nós, quando nós não sabemos tomar conta do nosso 'eu' verdadeiro.

Por outras palavras, a psicopatologia surge quando o projeto de vida de uma pessoa se desvia da intenção, quando a realidade histórica se desvia ou afasta da escolha originária do 'eu'. Bloqueado no seu desenvolvimento, o indivíduo vive em função de uma identidade que já não corresponde ao seu presente e cada vez mais afastado tanto da sua possibilidade de auto-afirmação como da de sentir a existência como realidade, vê-se destituído da capacidade de se projetar no futuro. O desafio é então o de perceber até que ponto estamos condicionados pela imposição de modelos externos ao nosso próprio 'eu', que nos seduzem a seguir um caminho que nos desvia da aceitação do que somos, com todas as nossas falhas e imperfeições.

Percebe-se assim, ironicamente, que é o evitamento que fazemos à nossa própria vulnerabilidade que mais ferozmente contribui para o agravamento dos problemas, inclusivamente, os problemas associados a experiências psicopatológicas. Quando assumimos esta vulnerabilidade, quando a reconhecemos como dimensão inseparável do nosso funcionamento pessoal, o medo de ser-se conotado aos olhos do outro, e do si mesmo, como imperfeito, incapaz ou inapto, é confrontado e através da aceitação, esperançosamente dissolvido. Neste momento, o ser abre-se para um mais profundo reconhecimento da igualdade que o une ao outro, passando ambos a sintonizar-se na mesma frequência de humanismo.

Representando o audaz compromisso da pessoa com o seu próprio bem-estar, nela evidenciando a capacidade de reconhecer os seus próprios limites, reconhecer a existência de um problema e a responsabilizada necessidade de superá-lo, a procura de ajuda psicológica destigmatiza-se da conotação pejorativa inicial para converter-se no privilégio que faz dessa pessoa um herói de si mesma. Não é possível comparar sofrimentos; dizer de uma dor que é mais válida do que outra - todas as experiências do cliente devem ser validadas e cuidadas.

Como no caso da vinheta descrita por Vânia Duarte, não permita que a sua experiência de sofrimento seja banalizada e rotulada subvalorizadamente como uma 'mania', 'disparate', ou 'mera chamada de atenção'.

Escute-se e respeite-se. A patologia é um adoecimento do humanismo; do humanismo que se não permite ser, que se não permite manifestar, que se fecha e se esconde, que se amputa e desfigura. Em socorro das dificuldades em torno deste processo de aceitação de totalidade, a ajuda psicológica centra-se no autoconhecimento, na autorrealização, e na ressignificação de crenças limitantes, em questões emocionais, cognitivas e comportamentais que precisem de ser revistas e transformadas. Atuando segundo esta lógica, o psicólogo deve ser visto não como profissional da doença mental, mas como profissional da saúde mental - e o cliente como uma pessoa cônscia das suas necessidades, mostrando sinais de desenvolvimento, maturidade, amor-próprio e coragem para alcançar o seu equilíbrio emocional e bem-estar.

Quando temos algum problema de saúde, não nos privamos de consultar um médico da especialidade; para cuidarmos de nós, é até 'trendy' recorrer ao desporto e a dietas saudáveis: se a saúde mental é tão importante quanto a física, por que não consultar um psicólogo quando não estamos emocionalmente bem?


4 - "Consultar um psicólogo? Nem penses! Com a medicação isto vai ao sítio. Não preciso de ir lá falar com ninguém"

No exigente contexto acelerado da pós-modernidade, a medicação psiquiátrica surge como uma resposta rápida e aparentemente eficaz na remediação e até eliminação da sintomatologia patológica. Não raro, antes da procura de ajuda psicoterapêutica, muitas pessoas recorrem primeiramente à toma medicamentosa prescrita por um psiquiatra. Contudo, incapazes de alterar atitudes e formas de pensar, os fármacos pouco ou nada atuam no tratamento da problemática central, fazendo com que os sintomas reapareçam aquando da cessação da toma e, muitas vezes, de forma mais intensa e descontrolada.

Na minha experiência clínica, isto acontece muito frequentemente com ansiolíticos. Embora os ansiolíticos proporcionem um alívio dos sintomas de ansiedade, o efeito é apenas temporário, não sendo tratadas as causas da ansiedade; com efeito, à medida que os fármacos deixam o organismo, são frequentes as recaídas. Por outro lado, muitos destes fármacos podem provocar habituação, e levar o indivíduo a evitar continuamente os objectos/situações que lhe provocam ansiedade, furtando-se a aprender a lidar com o desconforto sentido de uma forma realista e adaptativa. Embora não seja tão instantânea quanto a medicação psiquiátrica, quando eficaz, a psicoterapia pode levar à remissão total dos sintomas. Um número cada vez maior de estudos científicos demonstra que a psicoterapia pode ser tão ou mais eficaz do que o recurso à intervenção medicamentosa, a médio e longo prazo. Ainda assim, em muitos casos é ineficaz devido à persistência de determinados sintomas que incapacitam a prossecução do acompanhamento, pelo que o mais ajustado será uma solução integrativa, emparelhando os fármacos à psicoterapia. Em muitos destes casos, a resistência à medicação segue a mesma lógica associada à ajuda psicológica, e deverá ser desconstruída para (re)lançar o sucesso da intervenção.

Conclusão:

Aproveite cada minuto do seu processo de mudança: este é o tempo da transformação positiva, este é o tempo do investimento na sua maior qualidade de vida - este é o tempo para si. Não permita que a vergonha ou o preconceito o/a impeçam de lutar pelo seu bem-estar, e por uma melhor qualidade de vida.

Consigo nesta caminhada,

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